sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Viagem longa

Como gostava de ler e ia para uma viagem longa o Senhor Juarroz decidiu por na mala seis exemplares do mesmo livro.
Mas a mala do Senhor Juarroz ficava tão pesada que ele nunca conseguia viajar.
O Senhor Juarroz chegara à conclusão de que não podia levar para a viagem a sua casa inteira, até porque assim não iria em direcção a um outro sítio, mas sim em direcção aos seus objectos, em direcção, no fundo, à sua própria casa. E tal viagem tornava-se, então, desnecessária pois o Senhor Juarroz estava já, observando bem, em sua própria casa.
Sendo assim, para ser uma viagem a sério, o Senhor Juarroz não deveria levar nada: nem um objecto. Em direcção ao desconhecido, murmurava.
Quando estava então prestes a sair de casa, agora sem qualquer mala, começava a pensar que, assim, desprotegido, apanharia frio, passaria fome, além de correr o risco de apanhar diversas outras angústias existenciais e higiénicas.
Decidira sempre, por isso, à última hora, permanecer em casa.

                                                                         in O Senhor Juarroz, de Gonçalo M. Tavares

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